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FÓRMULA INDY – INDY500 – História: O carro número 11 parecia fadado a nunca vencer!

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Pessoal, com muita honra e satisfação, publicamos essa matéria super especial e alguém muito especial! Trata-se de uma das publicações de uma série sobre a INDY500 da autoria de Geferson Kern e que tem sido publicada em sua página do Facebook.

Como o foco deste capítulo é um brasileiro e ainda, TONY KANAAN, pedimos permissão e fomos atendidos para que pudéssemos publicar aqui, para nossos leitores e para ficar gravado a história! Para quem não conhece ainda, Geferson Kern é Jornalista diplomado, locutor em arrancada e por vezes endurance, no Velopark, Tarumã (Outlaw) e Santa Cruz (Super300), Kart. Venera Indy, F1, Nascar, MotoGP, NFL, NBA e futebol.

Segue então, na íntegra, seção publicada pelo jornalista em 15/05/2019:

Faltam 11 dias para as 500 Milhas de Indianápolis. Em Indy, o carro número 11 parecia fadado a nunca vencer: só foi receber a quadriculada antes de todos os outros em 2013, com um piloto que também parecia condenado a passar à posteridade como um sujeito conhecido por não ganhar. Naquela que talvez tenha sido a quadriculada em bandeira amarela mais emocionante da história do Speedway.

Até aquele ano, já havia ocorrido quase de tudo que fosse imaginável com Tony Kanaan em Indianápolis. Teve um motor estourado em 2002; perdeu a ponta às vésperas do encerramento precoce da prova pela chuva em 2004; foi derrubado por um pit stop ruim em 2005, quando largou da pole; liderava na hora da chuva após a centésima volta, viu a prova ser reiniciada e foi mandado pra fora pelo retardatário Jaques Lazier em 2007; foi jogado no muro pelo companheiro de equipe Marco Andretti em 2008; bateu sozinho por uma quebra em 2009; e estava na ponta já na volta 189 quando surgiu a bandeira amarela em 2012, mas a direção de prova autorizou a relargada e ele foi superado por carros mais rápidos. Além disso, não deu sorte na corrida pela economia de combustível nas voltas derradeiras em 2006, 2010 e 2011.

Em 2013, o baiano já vinha em sua terceira temporada pela pequena KV, para onde se debandou após oito anos consecutivos na Andretti. Naquela temporada, vinha de um quarto lugar na etapa de abertura, em St. Petersburg, mas ficou longe do Top10 em Birmingham, Long Beach e São Paulo. No circuito do Anhembi, o drama: após brigar pela vitória desde a largada, Kanaan foi vítima de uma pane seca já no último terço de prova. Seu carro parou exatamente sobre a linha de chegada, num lance que mais parecia mais um capítulo de seu via sacra em Indianápolis.

Ressalta-se que, até então, nem TK nem o time de Jimmy Vasser viviam época de vacas gordas. Os melhores resultados do brasileiro pela equipe foram dois segundos lugares, em Milwaukee e Iowa, pista em que havia conseguido sua última vitória, ainda em 2010, pelo time de Michael Andretti. A pequena equipe havia triunfado somente duas vezes: em 2005, pela Champ Car, com Cristiano da Matta em Portland, quando ainda tinha o empresário Craig Pollock como sócio e se chamava PKV; e em 2008, na derradeira prova da categoria, em Long Beach, com Will Power.

Os time trials para a 97ª Indianapolis 500 mostravam com clareza que a maior força de Indy naquele Mês de Maio era justamente a Andretti, a antiga casa de Kanaan. Todos os cinco carros da equipe se classificaram ao Fast 9 para disputar a pole, bem como todos os três da sempre favorita Penske. Apesar disso, a posição de honra ficou com Ed Carpenter, com o carro de sua própria equipe, o único furão entre os dois pesos pesados na seção decisiva do Pole Day. Kanaan, no carro #11, largaria em 12º, ao lado dos pouco cotados JR Hildebrand e Alex Tagliani.

Mostrada a bandeira verde e, em menos de meia volta, TK já era o sexto. Assumiu a ponta pela primeira vez na nona volta. O vácuo intenso provocado pelo pacote aerodinâmico em vigor provocava uma troca de posições frenética. Os motores Chevrolet dominavam a contenda, com o bravo Dallara patrocinado pela marca de suplementos alimentares Hydroxycut num revezamento intenso da ponta com Ryan Hunter-Reay, Carlos Muñoz e Marco Andretti, todos da equipe chefiada pelo pai desde último. Pela Penske, Hélio Castroneves e A. J. Allmendinger, que recebia uma nova chance de mr. Roger após competir em sua equipe de Nascar no ano anterior e ser suspenso pelo uso de maconha, também fizeram breves aparições na liderança.

A insanidade da briga pela ponta se traduziu em números: até hoje, esta é a edição de Indy com o maior número de trocas na liderança. Incríveis 14 pilotos, quase metade do grid, apareceram na P1, num total de 68 mudanças de líderes. A intensidade não se traduziu em acidentes: apenas 21 voltas foram disputadas em bandeira amarela. O mais impressionante foi o trecho de 133 voltas sem aparições do Pace Car, entre os giros de número 61 e 193. O longo trecho de ação ajudou esta a ser a prova mais rápida da história de Indianápolis, disputada em 2h40min03s, média de 187.433MPH (insanos 301,579km/h). A situação atípica também gerou uma cena incomum: quando as janelas de pit stops se aproximavam, não era incomum que o pelotão se posicionasse em fila indiana e todos, sem exceção, aliviassem o pé ao final da reta. Com o objetivo paradoxal de não liderar a prova naquele momento e economizar combustível ao máximo.

A janela derradeira veio a cerca de 20 voltas para o final e o karma de Tony Kanaan, distante ao longo de toda a prova, parecia querer ressurgir. Seu último pit stop foi ruim e o colocou distante dos rivais da Andretti. Tony rapidamente recuperou o prejuízo e se recolocou em condições de disputar a ponta. Reassumiu a dianteira na volta 189 e passou a revezar-se na liderança com Ryan-Hunter Reay, campeão da temporada anterior. Na volta 193, o baque: RHR havia acabado de ultrapassar Kanaan quando a bandeira amarela foi acionada. Graham Rahal havia escapado na saída da curva 2 e batido no muro interno. O destino era cruel outra vez: por mais que novamente fosse o piloto mais rápido do dia, o campeão da Indy de 2004 parecia fadado, em sua 12ª tentativa, a não vencer. O tempo restante era curto e o trabalho para a retirada do carro acidentado nem tanto. A bandeira amarela havia aparecido na hora errada. De novo.

Mas aquela não era uma edição qualquer das 500 Milhas de Indianápolis.

Em entrevista ao site Grande Prêmio tempos depois, Kanaan contou que a KV só possuía dois chassis para aquela temporada. Na impossibilidade de disputar o título diante de times muito mais estruturados, a equipe resolveu usar um dos carros para correr as quatro primeiras provas do ano. O outro seria totalmente reservado para Indianápolis. Aos jornalistas, o brasileiro ria da situação, ao lembrar que precisava buscar resultados nas etapas iniciais do ano com todo o cuidado para não bater – e obrigar a equipe a utilizar antes da hora o chassis destinado à prova que todos queriam vencer.

A edição de 2013 também era a prova da famosa medalhinha de Kanaan. Um amuleto que ele deu a uma menina num hospital nove anos antes e que lhe foi devolvido por correspondência dias antes da prova, com um bilhete de agradecimento: a criança havia se curado. E se tudo isso não fosse suficiente, a corrida naquele ano marcou a primeira visita de Alessandro Zanardi a Indianápolis. Amigo de Vasser e Tony, o italiano nunca disputou a prova, mas em sua história quase sobre humana, havia acabado de conquistar suas primeiras medalhas paraolímpicas de ouro. E insistiu para que, na manhã da prova, o brasileiro esfregasse a medalha em si, pois ela teria poderes especiais. E foi prontamente atendido.

Era história e misticismo demais para que um dos maiores personagens da maior corrida do mundo tivesse um desfecho repetitivo, previsível e desditoso.

Enquanto o Corvette Stingray que servia de Pace Car se arrastava para que a limpeza de pista fosse concluída em tempo de uma nova relargada, a arquibancada se agitava. Hunter-Reay liderava, seguido de Tony, do surpreendente novato colombiano Carlos Muñoz – que largou num incrível segundo lugar – e de Marco Andretti. Nas cabines, o legendário locutor Luciano do Valle se dizia nervoso. Todos estávamos, afinal. “O Tony merece. E o público está dizendo que o Tony merece”, bradava ao lado do comentarista Felipe Giaffone, em alusão aos sonoros aplausos ao brasileiro vindos da arquibancada quando esta fora perguntada, pelo sistema de som oficial, sobre quem venceria a prova.

Volta 197. Veio a bandeira verde. Aquela relargada poderia valer toda uma vida. O jogo de vácuo desvairado indicava que o líder seria engolido sem dificuldades. Kanaan buscou o lado de dentro, enquanto Hunter-Reay se defendia encaixotado pelo meio e Muñoz tentava o mergulho por fora. A tangência da curva 1 se aproximava perigosamente. Do Valle vibrava com a epopeia: “Tony Kanaan por dentro, lá vai Tony…”.

Por um segundo, silêncio. Respiração presa e boca aberta. Sufoco. Quem contornaria a curva na frente?

“Dá-lhe, Tony!”.

Já era possível soltar a respiração. Kanaan passou e trouxe Muñoz com ele. Entrou na reta oposta com uma vantagem o suficiente para liderar ao menos a próxima volta. Mas nem foi preciso. Entre as curvas 1 e 2, um estranhamente apagado Dario Franchitti encontrou o muro. A bandeira amarela era inevitável. Não haveria tempo para limpar a pista e promover outra relargada antes da quadriculada. Franchitti não se machucou. O escocês desceu do carro e olhou para a famosa torre de cronometragem. Que trazia a informação que tantos quiseram ver por tanto tempo.

Desta vez, era Tony quem estava na frente. E na hora certa.

A KV comemorava. Lauren, sua esposa, quando flagrada pelas câmeras de TV, parecia incrédula. A TV americana fazia uma analogia apropriadíssima: assim como Daytona devia uma vitória a Dale Earnhardt e a deu em 1998, Indianápolis devia uma vitória a Tony Kanaan. Aquele que acreditava que o circuito escolhia quem venceria prova.

Naquele ano, o escolhido era ele.

Nas cabines, era impossível saber, mas Luciano do Valle, pioneiro na transmissão da Indy no Brasil, narrava a prova pela última vez. Justamente na vitória de um brasileiro. O lendário narrador morreria em abril do ano seguinte, menos de 60 dias antes da prova. Ao se confessar emocionado, definiu o momento com precisão.

“Chora o Tony. E nós também”.

Se houve uma edição das 500 Milhas de Indianápolis digna de extrair lágrimas do mais impassível dos corações, esta foi a que Tony Kanaan bebeu o leite e estampou seu rosto no troféu. Absolutamente célebre.

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Geferson, tomamos a liberdade de disponibilizar o vídeo com a corrida completa via YOUTUBE:

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