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500 MILHAS DE LONDRINA – História sobre os 25 anos das 500 Milhas de Londrina – 2016

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Após a grande edição de 25 anos das 500 Milhas de Londrina, apresento a vocês, como surgiu uma das corridas de longa duração de mais prestigio do país. Essa matéria estava presente na revista, que foi disponibilizada no autódromo. O texto é do meu grande amigo Vitor Garcia, quem nos concedeu a honra de publicar o seu trabalho.

Tubarão Mugen #32 vence em Londrina. - Foto: Vanderley Soares.
Tubarão Mugen #32 vence em Londrina. – Foto: Vanderley Soares.

Depois de muita luta, o sonho torna-se realidade e o Autódromo de Londrina foi inaugurado no dia 23 de agosto de 1992, e para comemorar a nova praça de esportes da cidade paranaense e mobilizar pilotos e equipes de todo o Paraná, os curitibanos Helmuth Schroedere Paulo Ivan de Souza que eram os promotores das 6 Horas de Curitiba se associaram com Tazzio Borghesi que na época era o coordenador do departamento de esporte motor da Autarquia Municipal de Esportes e Turismo para a criação de uma prova de longa duração na cidade.

No dia 13 de dezembro de 1992, um quente domingo, nascia a “500 Milhas de Londrina”, prova de endurance em comemoração ao aniversário da cidade e com a finalidade de fechar a temporada do automobilismo paranaense.

A primeira prova teve largada as 11h25, com a presença de 30 carros e pole position da dupla curitibana Tadeu e Roman Kowalczuk que se mantiveram à frente durante as primeiras duas horas de corrida; a partir daí os também curitibanos Ariel Barranco e Javier Perez assumiram a ponta para não mais perderem até a bandeira quadriculada, completando as 254 voltas em 6h53min31s33.

Vistoriando motores, Rubens Gatti era presidente do Kart Clube do Café desde 1986 mas naquele ano atuava como comissário técnico na prova; envolvido com automobilismo, em 1994 passou a ser diretor de provas na Federação Paranaense de Automobilismo, onde se tornaria vice-presidente em 1997. Em 2001 assumiu a presidência, cargo que ocupa até hoje.

Apesar do grande sucesso da primeira edição, os empresários curitibanos decidiram não continuar com a empreitada e abandonaram a prova. Três entusiastas londrinenses aceitaram o desafio de continuar com a prova, assumindo o comando do evento a partir de 1993: Aloysio Moreira, Beto Borghesi e Daniel Procópio. “Na primeira edição, eu e o Aloysio participamos como pilotos. Sabíamos o que a prova precisaria para melhorar e então aceitamos organizar as 500 Milhas de Londrina”, relembra Beto Borghesi.

Com o trio local as 500 Milhas de Londrina ganham em qualidade e profissionalismo, e já de saída decidem chamar o Diretor de Provas do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, o húngaro Mihaly Hidasi (falecido em 02 de agosto de 2013) para que o evento ganhasse credibilidade que faria desde então essa uma das mais importantes e conceituadas provas do automobilismo nacional. “Não poupamos esforçamos para trazer o diretor de provas da Fórmula 1 no Brasil da época. Isso foi muito importante para a corrida, que foi vista com outros olhos pelos participantes”, explica Daniel Procópio.

Na pista, emocionante vitória do trio Luiz Bley Jr., Roman Kowalzuk e Placido Iglésias na última volta em cima de Arthur Nunes, Jair Bana e Tadeu Kowalczuk que sofreram com um problema na bateria, perdendo potência e cruzando na segunda colocação.

Em 1994 o Autódromo de Londrina batizado oficialmente de Norman Prochet tem seu nome alterado em junho para Ayrton Senna devido à morte do tricampeão mundial de Fórmula 1 no fatídico acidente no dia 1º de maio em Ímola (Itália).

A terceira edição comemorou também os 60 anos da cidade de Londrina, e contou na direção de prova Carlos Regal, conhecido como “Magrão” e grande experiência nas provas de F3 Sulamericanas e Fórmula Uno (uma das maiores categorias do automobilismo nacional na época), além de por oito vezes estar à frente das Mil Milhas Brasileiras.

A prova aconteceu sob forte calor, o que é comum nessa época do ano na região, mas no final da prova uma forte pancada de chuva caiu sob o autódromo causando um forte acidente envolvendo três carros que colidiram na curva que antecede a entrada dos boxes: Tazzio Borghesi não conseguiu desviar dos dois primeiros carros os atingindo em cheio. Nesse acidente ficaram feridos um fiscal de pista e os pilotos Fábio Steinbruch e Beto Richa, mas sem gravidade após receberem atendimento na pista. A vitória ficou com os irmãos Tadeu e Toman Kowalzuck que correndo pela primeira vez juntos venceram na geral.

Remanescentes da história do automobilismo paranaense, dois pilotos da velha guarda fizeram bonito: Thales Pólis que era piloto de kart nas provas de rua do Paraná venceria em 1993 e 1994 na categoria Marcas em trio com Morvan Tacla e Roberto Baú. Já Rolemberg Vidotti que domava seu Dodge no circuito de terra venceria ao lado de seu sobrinho Fabio (93) e Marcos Peres (94) na categoria Speed.

O ano de 1995 marca a entrada definitiva dos protótipos da prova de endurance paranaense, o que anos mais tarde seriam as grandes estrelas da prova. Os já conhecidos protótipos Aldee fabricados em São Paulo eram os grandes favoritos, mas um projeto local roubava a cena.

Protótipo Aldee Donato fabricados em São Paulo.
Protótipo Aldee Donato fabricados em São Paulo.

O AM-02 era um protótipo desenvolvido pelo projetista José Lino durante dois anos em Londrina; o carro recebeu um motor de 320 HP de um Omega StockCar, preparação dos irmãos Claudio e Juan Arias (Arias Motorsport) e teve como pilotos o trio formado por Arley Marroni, Gastão Weigert e Mario Iokota. O carro “da casa” largou na 18ª colocação, cruzando a linha de chega em 4º lugar na geral e vencendo na categoria Força Livre. A vitória da prova ficou com o Aldee n° 63 de Arrthur Nunes, Gilson Reikdal e Jair Bana.

Uma novidade marcaria a edição de 1996 das 500 Milhas de Londrina: a largara seria alterada para a tarde (15h) e o final da corrida aconteceria a noite – o que seria mais uma marca registrada. E para brincar essa novidade, nada melhor do que a pole position do protótipo londrinense, o AM-02.

Guiado por Arley Marroni e Gastão Weigert, o carro mantinha a liderança, mas uma quebra na suspensão dianteira direita tirou o protótipo da disputa. Pilotos locais chegaram a assumir a liderança, como Beto Borghesi que corria com João Noboru Mita e Carlos Campos ou Luciano Borghesi com Tadeu Kowalczuk – a última dupla teve a quebra da correia dentada nas últimas voltas, deixando escapar a vitória na geral para os paulistas Luis Carlos Stinchi e Ilídeio Moscoso. A primeira prova noturna teve duração de 7h00min38s605

Um ano de novidades, assim pode-se definir a 6ª edição que foi realizada em 1997: a largada da prova aconteceu às 16h, o que se tornaria uma tradição da prova por muitos anos consecutivos. Pela primeira vez em sua recente história uma dupla sagrava-se bicampeã na geral, isso aconteceu em 1997 quando os irmãos Roman e Tadeu Kowalczuk venceram em uma prova que curiosamente, não contou com a entrada do Safety Car em nenhum momento das 6h42min57s794 em que as 254 voltas foram completadas.

Estratégia, essa é a palavra que resume a edição de 1998, quando o Voyage n° 114 dos irmãos Carlos e José Rapcham surpreendeu e venceu a prova com pelo menos duas voltas de vantagem em relação aos protótipos que vinham atrás. O forte calor que fez naquele ano desgastou demais todos os carros, e graças a estratégia e a vantagem de um grande tanque e pouco consumo, a vitória foi garantida depois de apenas dois reabastecimentos e nenhuma troca de pneus.

Corridas e vitórias em família não são novidades nas 500 Milhas de Londrina, e coube a tradicional família Borghesi de Londrina garantir o hat-tricks (pole, melhor volta e vitória) em 1999: Beto, Luciano e Tazzio Borghesi já tinham garantido seus nomes na história da prova, mas agora cravavam como vencedores! Esse ano seria inesquecível para Luciano Borghesi, que também conquistou as 1.000 Milhas Brasileiras, em Interlagos, correndo ao lado do sobrinho Beto e de Jair Bana.

Os Borghesi repetiram a dose vencendo no ano seguinte, agora comente Luciano e Tazzio (pai e filho) a bordo do Aldee n° 1 no ano 2000. A prova que comemorou nove edições ininterruptas passou por dificuldades (e não foram poucas), mas cravava seu nome da história como uma das mais importantes provas do automobilismo nacional – e até hora realizada todos os anos desde sua criação. Explicação para o sucesso, a prova sempre foi pensada, organizada e realizada por pilotos. Em 2001 mais uma vez a história de famílias vitoriosas se repetiu, dessa vez com Jair Bana vencendo a prova ao lado de seu filho Duda Bana e de Sérgio Ribas (esse sem parentesco com os Bana).

Um ano depois (2002) a prova ganhará ares de maturidade, chegando aos 10 anos consecutivos, e para comemorar nada melhor do que uma grande festa, com a exposição de motos, carros antigos, paraquedismo, shows de rock, etc. E dentro da pista os pilotos mantiveram a tradição de ótimas disputas, com 28 carros alinhados e vitória de Fábio Machado e Gastão Weigert com o Aldee n° 1, chegando à frente de dois carros “familiares”: Paulo e Lorenzo Varassin (pai e filho) cruzaram a linha de chegada na segunda colocação, e Luciano, Tazzio e Beto Borghesi (pai, filho e sobrinho) em terceiro lugar. Pela primeira vez na história uma mulher competia na prova, era Mayara Beraldo com apenas 17 anos de idade correndo ao lado de seu pai, Antonio e cruzando na 12º colocação na geral (a dupla subiu no pódio em 2003 na categoria Speed).

Um ano depois e o grande domínio era dos novos protótipos que invadiam Londrina: Spyder, MRC, Predador, Aldee eram os mais rápidos, e os vencedores foram conhecidos com 11 voltas de antecedência, graças a uma forte chuva que caiu sob a pista na última meia hora, obrigando a direção de provas a paralisar a corrida mais cedo e confirmar o trio do Spyder n° 14 formada por José Augusto Rapcham, Henrique Favoretto e Antonio Oliveira Jr.

Comemorando o 70ª aniversário da cidade de Londrina, a edição de 2004 trouxe novidades, como o site oficial da prova para a divulgação de notícias e resultados, além da criação do troféu permanente da 500 Milhas de Londrina que foi comentado por Aloysio Moreira: “Esse troféu foi criado para registrar e destacar os campeões das 500 Milhas de Londrina e também perpetuar a história do automobilismo londrinense”, comentou o organizador.

Dentro da pista, disputa constante de duas famílias: os Borghesi que eram representados por Beto, Tazzio e Luciano, e os Varassin que faziam uma prova de pai (Paulo) e filho (Lorenzo). Mas quem mostrou a que veio foi uma promessa revelada na cidade, Cesar Bonilha – ou Cesinha como é conhecido no esporte – que a bordo do protótipo Spyder n° 18 fez a pole position e venceu ao lado de Marcio Lima e Ciro Moreira, escrevendo seu nome na prova pela primeira vez.

E se a corrida dos Varassin durou apenas quatro voltas, um ano depois (2005) era a vez da família enfim colocar seu nome no degrau mais alto das 500 Milhas de Londrina, com Paulo e Lorenzo que correm junto com Fabio Machado vencerem com o protótipo MCR n° 20 e estabelecerem o novo recorde da prova: 6h21min36s891. O trio repetiria a vitória em 2006, ano em que a prova bateu recorde de participantes com 48 carros e 126 pilotos inscritos, chegando apenas 16s à frente da dupla curitibana Celso Zocolotte e Beto Cazuni.

Peugeot 207 2.0 da dupla José Cordova e Marcos Ramos em 2007.
Peugeot 207 2.0 da dupla José Cordova e Marcos Ramos em 2007.

O ano de 2007 sagraria mais um trio tricampeão da prova: Cesinha Bonilha, Ciro Moreira e Marcio Lima conquistaram a segunda vitória consecutiva na geral a bordo do protótipo Spyder, mas foi um grave acidente que roubou a cena nesta edição: Beto Borghesi que corria ao lado do tio Luciano assumiu a ponta mas se envolveu em um forte acidente com Henrique Moreira na 100ª volta da prova – tão forte que rachou o protótipo Spyder da família Borghesi ao meio, obrigando a entrada do Safety Car por oito voltas.

Aos 16 anos (recorde como o piloto mais jovem da prova), Henrique fazia sua estreia na prova com bagagem histórica: filho de Ricardo e sobrinho de Aloysio Moreira, nomes fortes desde o tempo do kart londrinense. Apesar das capotagens que sofreu com seu Uno, tanto Henrique como Beto saíram sem ferimentos do acidente para aplaudir pela segunda vez a prata da casa que conquistava o bicampeonato.

Filho de Chico Tumiate (nome forte no autocross nos anos de 1980), Maicom era levado pelo pai desde os 4 anos de idade para as pistas, e aos sete anos ganhou seu primeiro kart onde aprendia os macetes do esporte em Rolândia (única pista da região naqueles tempos). Mas foi amaciando os motores dos carros preparados pelo pai aos 16 anos que aprendeu a conhecer cada centímetro do autódromo de Londrina, e essa experiência ajudou a mais esse “filho do autódromo” a conquistar a vitória em 2008 ao lado de José Ramos a bordo do protótipo Spyder n° 8 e ainda quebrando o recorde da prova que pertencia à família Varassin: 6h16min42s861.

Essa quebra de recorde não duraria muito, em 2009 seria destruído pela Ferrari F420 GT2 do trio Chico Longo, Chico Serra e Daniel Serra que dominaram toda a prova, cravando a pole position e vencendo com 17 voltas de vantagem à frente dos campeões de 2008, completando as 263 voltas na pista londrinense em 5h57min06s174 (recorde mantido até hoje). Nesse mesmo ano a prova contou com a presença de outro carro muito desejado, o Ford GT40 guiado por Xandy e Xandinho Negrão, que terminaram em 4º lugar na geral.

Uma prova muito movimentada, assim poderia ter sido definida a edição de 2010 por diversos aspectos: fora da pista, Ettore Beppe e Beto Monteiro (o Betinho), nomes de grande importância para o automobilismo londrinense (estiveram à frente dos Dragões Verdes e da Transparaná) eram homenageados e guiaram um Willys Berlinata Interlagos totalmente restaurado.

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Modelo restaurado da Berlineta Willys Interlagos que esteve nas 500 Milhas de Londrina. – Foto: Marcelo Henrique.

Recém eleito governador do Paraná, o londrinense Beto Richa que já disputou diversas vezes a prova, escrevia na história do automobilismo nacional a primeira vez que um político eleito acelerava nas pistas – e toda a mídia marcou presença para registrar esse feito.

Depois de pouco mais de 6 horas, Jair e Eduardo Bana a com o protótipo Predador conquistaram pela segunda vez juntos as 500 Milhas de Londrina. Jair seria tricampeão, uma vez que vencerá em 1995 também, além das vitórias em 2001 e 2010 com o filho.

Ao longo de 19 anos, as 500 Milhas de Londrina que nasceram apenas para integrar as comemorações de aniversário da cidade, colocou seu nome na história do automobilismo nacional, como uma das mais importantes provas do Brasil, sendo a única a ser realizada consecutivamente desde a sua criação e praticamente no mesmo formato. Grande responsável por criar e acima de tudo manter uma tradição no automobilismo, também revelou grande nomes ao esporte – e a história continua graças a força de vontade de três homens que jamais deixaram de acreditar e principalmente realizarem: Aloysio Moreira, Beto Borghesi e Daniel Procópio.

Muitos outros nomes vieram a se juntar a esse trio e fazem parte dessa história: pilotos, preparadores, equipes, imprensa, marketing, cronometragem, segurança, médicos, fiscais, sonorização, locução… enfim, a lista é imensa e agradecer a todos esses profissionais seria impossível, mas sem eles escrever e continuar escrevendo essa história não seria possível.

Novamente meu muito obrigado ao Vitor Garcia, realmente uma matéria sensacional!! Mais noticias sobre o Jubileu de Prata das 500 Milhas de Londrina. Clique aqui.

Tomada de Tempo, Aqui sua notícia é pole position.